Começando o relato assim podemos até pensar que foi sofrido, que nada, foi feito com muita alegria e descontração, pois estávamos num grupo de pessoas conscientes e com a meta de derrubar o “gigante”.
Costumo dizer que me desafio nessas provas, mas para isso são envolvidas outras pessoas, paciência da esposa em mais um final de semana longe, família que fica apreensiva, no trabalho, alguém se envolve para que tu possa ir tranquilo, ano passado fui ajudado por muitos colegas de trabalho e para essa prova agradeço ao Roger Fickel, Caren Erdmann e a Márcia Beatriz Koppe, pelo auxílio na escala, essas atitudes com certeza faz com que a Ecosul seja apontada como uma das melhores empresas para trabalhar no RS, obrigado galera.
Outra dificuldade foi ter trabalhado a noite de sexta, chegar em casa pela manhã de sábado e logo rumar para Teutônia, saímos de Cristal eu e o Carlos Henrique Siqueira meu amigo há tempo e agora grande parceiro nas pedaladas, chegamos em Camaquã e nos juntamos aos outros audaxiosos, Jose Rafael Bandeira Severo , Paulo Cesar Brum Brum, Matheus Carvalho e o Vaterlon. Depois da tradicional foto na frente da loja Triplo X Bicicletas partimos em dois carros, um deles emprestado pelos proprietários da loja, por questões de logística nos ofereceram a camionete onde dá pra levar 5 bikes.
Já pensando na prova resolvemos almoçar no caminho, como escrevi antes “temos que pensar em cada detalhe”, almoço meio dia e lanche antes da largada, pois pela previsão iriamos pedalar 120 km sem comer algo.
Chegamos no local da largada lá pelas duas da tarde, um local muito bonito, descarregamos as bikes, pegamos os kits, cumprimentei algumas pessoas que conheci em outros audax da vida.
Fomos preparar as magrelas e vi que o pneu traseiro da bike estava vazio, enchi e após alguns minutos resolvi trocá-lo, sair preocupado com algo não me agrada muito, afinal já tem os 300 km para se preocupar. Não me lembro quem, mas alguém me emprestou um adesivo para colar a câmara, não vou devolver mesmo.
Tudo pronto e momentos antes de irmos para o Briefing e largada o Rafael reuniu o grupo e pediu ajuda divina para nos acompanhar na jornada, falou também que só deixaríamos alguém pelo caminho se o motivo fosse desistência, caso contrário chegaríamos junto no final. Acertamos os últimos detalhes e #partiu briefing.
No briefing tivemos a feliz notícia dada pelo Bruno Tiggemann dizendo o valor que foi arrecadado e destinado ao Ruimar Roloff, que havia sofrido um acidente em seu trabalho e teve grande parte do corpo queimada, chegou ficar vários dias na UTI, ciclista de Teutônia, um cara super gente boa, já pedalei com ele 2 provas de 600 km e uma de 400 km, afinal o audax era PRÓ RUIMAR e a intenção era destinar um valor pra ajuda-lo, essa notícia arrancou aplausos dos participantes.
A largada foi pontualmente às 16h, 130 ciclistas, muito lindo o colorido do pelotão passando pela cidade, logo chegamos na primeira subida longa do percurso, 6km, entramos nela com todo o gás que logo diminuiu, o calorão aliado ao asfalto quente e um vapor sufocante, do lado esquerdo havia um morro e fazia que não tivesse nenhum vento fresco, a frequência cardíaca se elevou e o jeito foi diminuir o ritmo, olhei para trás e vi o Cesar já com uma cara de desanimado, esperei e fomos juntos, falei pra ele que depois da subida teria uma descida forte e logo o PC. Fui tomar água que estava quente, se tivesse levado cuia e erva daria pra fazer um mate, sentar na beira da estrada e tomar olhando os loucos subir por ali de bike, coloquei boa parte dessa água fora, deixei só um pouquinho para molhar a boca. Na metade da subida passaram de carro o Bruno Tiggemann e a Susana Beatris Bender Tiggemann tirando fotos dos participantes, também o Udo Weissenstein com sua barra forte passou que era um fuca. Quase no final da lomba vi o Muki e sua mega combi, ciclista de Teutônia e agora como membro da organização, também já pedalei várias provas com esse cara gente boa, ele estava fazendo umas fotos e nos conseguiu dois tubão de água gelada, tomamos um pouco e dividimos com outros ciclistas que vinham chegando, saímos e logo chegamos no final da lomba onde estavam os outros nos esperando, nessa hora chegou mais um ciclista com a camisa da triplo xxx, oAlex Glaudecir Brum, apelido Abreu, e o Cesar chamava ele por sargento, nosso pelotão agora ficava com 7 elementos, combinamos de descer logo para chegar no pc, às 17h28min no PC1, km 28, carimbamos o passaporte, hidratação, pegamos água, novamente vi o Muki que me deu um pouco de cerveja sem álcool e falou que quando entrássemos na BR 386 teria um posto com água gelada e melhor ainda que era 0800. Saímos às 17h37min, agora num trecho mais plano, deu para bater um papo, encontramos outros ciclistas e imprudentemente andávamos uns do lado dos outros, mas foi só até eu e o Rafael se enroscar e quase cair, o Rafael chegou a colocar o pé no chão, mas menos mal que ninguém caiu, a partir dali fomos em fila indiana, pois o acostamento era estreito. Passamos por Colinas e chegou uma companheira minha nos últimos audax que participei, a chuva, parece que ela chegou na hora certa, refrescando e dando novo ânimo.
Ao chegar na BR386 fomos ao posto indicado pelo Muki, pegamos água gelada e logo seguimos, paramos mais a frente embaixo do viaduto que da acesso a Santa Cruz do Sul, pois faltavam o Vater e o Lique, logo chegaram e descobrimos que o Lique ao sair do posto caiu em uma valeta, não se machucou porém entortou um pouco o câmbio traseiro, mas deu para continuar.
Chegada no PC 2 às 20h04min, km 82, tinha muita melancia para a devida hidratação, combinamos ficar meia hora e partir, 20h38min saímos e quando o Matheus foi subir na bike viu que estava com o pneu furado, gritei e apitei para os outros que já tinham saído e ninguém ouviu nada, voltei e vi o Abreu que já foi tirando o pneu enquanto o Matheus pegava a câmara reserva e eu como não estava fazendo nada batia palmas na volta e fiz umas fotos, tudo pronto seguimos e logo alcançamos o restante do pelotão que nos esperavam mais a frente.
Anoiteceu um pouco antes de entrarmos na subida de 9 km, pudemos ver as marcas no asfalto do acidente que infelizmente vitimou sete pessoas na semana passada em Pouso Novo. Subindo naquela tranquilidade que um randonneur deve ter para poder terminar uma prova, passávamos uns ciclistas, outros nos passavam, uns paravam nos refúgios, nós também, era só ver uma placa de refúgio que dava vontade de parar, chegamos em Pouso Novo e achamos a água mais gelada do sul do mundo num posto de combustíveis, depois de algumas fotos seguimos e nessa altura o pior já havia passado, porém a fome era grande, a subida havia levado nossas energias e o pensamento agora era chegar no PC para jantar.
Como relatei antes que pensamos em tudo antes de uma prova dessas, sabia que às 21h52min apareceria a lua, por volta das 22h pudemos ver ela após termos saído de um trecho onde tinha muitos morros, essa lua nos acompanhou toda a noite, nas subidas dava até para desligar o farol, sou grato a Deus por ter saúde e poder contemplar a natureza em momentos como este.
23h09min chegamos no PC3, km 119, em Prefeitura Municipal de São José do Herval, local escolhido para o jantar que foi oferecido pela prefeitura, o prefeito presente no local era nítido a alegria em seu rosto, estava muito feliz em receber os ciclistas, ainda não havia visto algo assim em outras provas, saber que muitas pessoas do município estavam ali para nos servir com tamanho carinho, quando saímos agradecemos o prefeito pela iniciativa. Antes de sair conversei um pouco com o Eduardo Etgeton, também já pedalei com ele um 400 km que saiu de Santa Cruz até Canguçu, sempre alegre e prestativo me falou de detalhes dos próximos 25 km, esse trecho eu ainda não conhecia.
No jantar notei que nossos guerreiros estavam abatidos, e eu não era diferente, fome, sono, desgaste devido às lombas. O Rafael comentou que nosso tempo estava ruim, falei que não podia ser diferente pois tínhamos passado por um trecho de muitas lombas, sabia que adiante a coisa melhoraria, esse trecho já conhecia quando fiz o audax 600 km que o Luiz Faccin organizou em maio de 2013, falei também que se estava ruim pra nós imagina para os que estavam chegando ainda para jantar, e não parava de entrar ciclistas no salão onde era o pc.
O abreu perguntou que horas estava previsto recomeçar pois queria ficar um pouco com as pernas pra cima e aliviar a tensão, o Rafael opinou meia noite e aceitamos. Confesso que estava bem debilitado nessa hora, estava quase 35 horas sem dormir e sentia que o sono estava pegando, temia não terminar a prova por causa do sono, acredito que Deus tem me guiado e deposito minha confiança Nele e com certeza proverá o que é o melhor, nessa hora após o jantar pude ver no lixo uma garrafa de um energético rico em cafeína, perguntei pro bolicheiro se ele tinha aquele para vender e ele respondeu que sim, aí sabia que era só tomar que logo estaria tudo resolvido, pois na semana anterior não havia ingerido nada de cafeína, dica do amigo Faccin que também tinha repassado aos meus colegas, lembro que o Rafael e o Abreu também tomaram aquele nitro. Ao sair do salão encontrei o Adelar Ribeiro Batista que estava chegando para jantar, esse cara conheci em Balneário Camburiú quando estava fazendo o audax 1000 km de Floripa, fiquei numa alegria em rever o amigo, pensa num cara gente boa, bah, mas só tem gente boa nesses audax? não se só tem gente boa, sei que os meus amigos são.
Às 0h04min partimos, a meta agora era sair da 386 e rumar para Arvorezinha, a partir daí a pedalada ficou boa, lua cheia, alimentado, hidratado, percurso um pouco mais plano, passamos pela ponte onde a organização havia falado para tomar cuidado, essa ponte era de tábuas e bem no final de uma descida forte com tachões na pista.
Chegamos em Arvorezinha e ficamos com dúvida no local exato do pc, logo passaram outros ciclistas que sabiam onde era e seguimos eles, mas antes disso esperamos o Lique que estava mexendo no câmbio traseiro e temendo que tinha quebrado, deu umas fuçadas e tudo normal seguimos em frente.
PC4, 3h20min, km 185, carimbamos o passaporte e recebemos dois sanduíches, não digitei errado não, foram dois, fui na bike pegar uns pila na guaiaca e vi o Eduardo Spellmeier que conheci no audax 400 km da Ninki da Sac em 2012, não preciso nem dizer que esse também é gente boa, indo para a esquerda de onde eu estava com um tubão de guaraná, até pensei em me associar com ele, trocamos umas palavras e resolvi comprar meu refri, entrei na lancheria e quando estava pagando o refri entrou a Suzana apavorada e solicitando ao atendente do caixa um pano para estancar o sangue de um ciclista que havia levado um faconaço no braço, saí para a rua e procurei ver quem era e vi que era o Eduardo, infelizmente a violência nos persegue até nesses momentos, A organização acionou a BM e SAMU que levaram ele para receber vários pontos no braço, acabava ali a prova para ele.
Quando fomos sair do pc às 4h o Adelar avisou que queria ir conosco, esperamos uns dois minutos e nosso pelotão passou a ter 8 integrantes, conversando com o Adelar Ribeiro Batista relembramos do 1000 km de Audax Floripa, das amizades feitas, do belo grupo que havíamos formado naquela façanha e também já planejando pedaladas futuras e uma delas com certeza será o Paris Brest Paris em 2015. Paramos uns 15 min depois para esperar o Lique que estava trocando as pilhas do farol, se tivesse trocado no pc teria escapado da mijada do Rafael, vamos dar um desconto que esse é apenas o segundo audax dele, ele é novo e aprende.
O Adelar comentou sobre o rico grupo que a triplo xxx formou para se aventurar nas provas de longa distância, falei pra ele que estava feliz também com a parceria, em 2012 e 2013 fui para as provas quase sempre sozinho.
Nossa meta agora era chegar no pc5 até às 6h30min, andamos 25 km e chegaram as duas descidas fortes, com todo cuidado descemos curtindo a brisa da manhã, no final da segunda descida forte paramos num posto e pegamos água, logo chegou o Abreu que também pegou água, seguimos e estavam nos esperando o Vaterlon, Lique, Matheus e o Rafael, comentaram que ficaram com medo de parar no posto que estava escuro e fechado temendo levar um tiro, falei que com a sede que eu estava me arriscaria.
Pontualmente às 6h30min chegamos no pc5, km 242, combinamos tomar café e sair às sete horas para evitar pegar o sol quente antes da chegada, O Vaterlon tomou uns 413 copos de suco, é que o bagual véio sua muito e tem que repor.
Acho que todos estavam a fim de terminar logo aqueles 60km finais, pois, às 7h saímos, primeira vez que o horário de saída combinado foi cumprido, no audax 400 km esse grupo vai estar afinadinho.
Andamos uma hora e mais uma breve paradinha, nessa hora fizemos 26km de média, o percurso bem plano e um leve vento ajudando, depois que passamos o viaduto de Lajeado e o de Estrela demos outra parada numa sombra, me sentei um pouco no asfalto com as pernas para cima, meus pés estavam doendo muito e inchados apertavam na sapatilha, mas nessa hora já faltavam uns 20km e era só alegria.
Um pouco antes de chegar no trevo dos bonecos Teu e Tônia, furou o pneu da bike do adelar, chegou até rasgar um pouco, mas deu para solucionar e seguir até o final. Entramos na cidade de Teutônia e resolvemos parar para comprar água, faltavam apenas 6km, mas ninguém queria seguir sem tomar algo, nessa hora o sol já estava derretendo tudo, breve parada e seguimos para os finalmente, chegamos no local do final apitando o tema da vitória, entregamos o passaporte e pegamos nossos certificados e medalhas numa mistura de cansaço e alegria do dever cumprido.
Reencontrei o Ruimar Roloff sempre alegre que falou detalhes de seu acidente no trabalho, também estava junto o Hamilton Dinarte que também conheci e pedalamos juntos o audax 1000 de Audax Floripa, ele havia caído com sua mega ultra giga bike dias atras e não participou desse audax, mas resolveu ir para almoçar e rever os amigos.
Tudo isso por uma medalha e um certificado? Resposta: Também pela medalha e certificado; também pelo desafio de saber que somos capazes de pedalar longas distâncias dentro de um prazo estipulado e com todas as adversidades oferecidas; pelas amizades que fazemos nesse tipo de prova; pelo aprendizado em saber que conquistas não vem sem o esforço; para dar valor ao que temos num momento de desconforto, sono ou fome; para saber que em equipe chegamos ao longe.
Agradeço Deus por ter nos cuidado desde a saída de casa até a volta, aos colegas pela maravilhosa companhia, a organização, e aos ciclistas que ajudaram o Ruimar.
Não posso esquecer de agradecer também os patrocinadores, sem eles sei que não seria possível participar de tantas provas como tenho feito: ECOSUL, empresa onde trabalho, TRIPLO XXX, loja que nos mantém as bikes em dia, CRESOL Cristal, e agora também a ACADEMIA MOVA, do amigo Igor Schrank, um cara que tem lutado pelo esporte no Cristal, não só pelo futebol, proporcionando qualidade de vida aos cidadãos Cristalenses.
Rumo aos 400 km.
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